Caracol - um hino à saciedade


O caracol nunca será um petisco consensual e os seus verdadeiros apreciadores por certo agradecem - até porque o consumo desta iguaria está limitado a poucos meses no ano.
O ritual de consumo do caracol pode ser visto como um hino à saciedade. Se a sua composição nutricional revela um baixo valor calórico à custa de muita água e alguma proteína, o esforço que inevitavelmente temos de despender para o comer obriga-nos a fazê-lo de forma calma e pausada, o que o torna num frenador do apetite ideal naqueles finais de tarde em que a praia nos deixa insaciáveis!  
Caracóis, deliciosos e nutritivos
O facto de ter quase 80% de água não significa que o caracol seja um vazio nutricional. À semelhança de outros petiscos de esplanada, este gastrópode possui quantidades significativas de ferro, selénio e cobre, surpreendendo também pela sua riqueza em magnésio, fósforo e particularmente vitamina E - até porque o “exclusivo” desta vitamina é detido quase na totalidade pelos óleos alimentares e frutos gordos. Mesmo sendo pobre em gordura (menos de 2%), o caracol consegue ajudar à satisfação das necessidades de EPA e DHA, os dois ácidos gordos ómega 3 mais associados à prevenção de doença cardiovascular, algo que equilibra o seu razoável teor em colesterol. Ainda assim, o colesterol não encontra no caracol quantidade suficiente dos seus “parceiros” ácidos gordos saturados para nos fazer temer o aumento destes valores no nosso organismo. Esta sua versatilidade nutricional já levou organizações de saúde de países em desenvolvimento (a Nigéria foi a primeira a dar o exemplo) a promoverem o seu consumo com vista a suprir algumas carências nutricionais existentes na população.
Se é ponto assente que o caracol é nutricional e sensorialmente fantástico, também é verdade que ele não é consumido sozinho. Se quanto à cerveja estamos conversados relativamente à palavra de ordem que deverá nortear o seu consumo – moderação! – falta abordar o molho. Em boa verdade, quase tudo o que leva azeite, alho e orégãos já não precisa de grandes acréscimos para nos fazer felizes, mas o molho dos caracóis deixa-nos pelo menos de consciência tranquila quando fazemos o ritual da praxe e mergulhamos no prato o nosso pão alentejano. Com estes dois acompanhantes, o ritual dos caracóis torna-se um pouco mais calórico mas mantém-se cheio de saúde, sobretudo se limitar substancialmente o nosso jantar!
Autoria de Pedro Carvalho, FCNA da UPorto
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